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Igor Voloshin

Igor Voloshin

 

 

 

Era um sonho recorrente: após aqueles anos todos sem vê-lo, e eu ali, sentado em seu apartamento, como de regresso de alguma incursão ao exílio, ou mesmo ao mistério que era nosso passado, sei lá, o fato é que me via ali, diante daquele homem, bem mais cansado agora, e me inquiria do sentido todo da coisa. Ele parecia outro. Retornava de um breve sono. Curioso, me perguntava do tempo que fiquei longe. E eu lhe dizia do mundo lá fora. Faz anos que não saio mais… Passo os dias aqui, debilitado… Estou morrendo, Carlos, me contava. Eu o ouvia, num silêncio penoso. Estou morrendo… Escutava-o dizer e me batia como se uma ânsia do ar lá fora. Eu dizia que era tarde, precisava ir. E então eu me despedia, a promessa de no dia seguinte estar ali novamente, a tempo de vê-lo emergir dos rincões de um sonho que, me prometia, contaria os detalhes. Eu saía. No peito, a urgência de alguma coisa, não sabia. Pisava o cimento, e pensava a iminência de um colapso. Depois, nas ruas, me perdia no caminho de volta. Me esquecia mesmo. Entrava num beco: não era ali. Insistia: sem que me fizesse achar… Eu despertava no meio do dia, então. Sozinho no apartamento.

 

 

 

© Fábio de Souza